ABSTRACT
Objetivo: Descrever e comparar as características epidemiológicas, clínicas e laboratoriais dos pacientes < 18 anos com doença falciforme (DF)infectados ou não por SARS-CoV-2 e identificar alterações do hemograma (HMG) daqueles infectados no momento da admissão comparado ao último exame antes da internação. Método: Estudo de coorte, unicêntrico, retrospectivo-prospectivo, com dados de prontuário de pacientes internados (março a novembro de 2020), com SARS-CoV-2 positivo (GP) ou SARS-CoV-2 negativo (GN) de acordo com PCR-RT. Foram coletados: idade, sexo, raça, índice de massa corpórea (IMC), genótipo da DF, uso de hidroxiuréia (HU), transfusão crônica (TC), presença de comorbidades, sintomas e complicações, uso de antibiótico, antiviral e anticoagulante, necessidade de oxigênio (O2), UTI, ventilação mecânica (VM) e ventilação não invasiva (VNI), HMG da internação e de antes da admissão para o GP. Resultados: Foram internados 57 pacientes, dos quais 11 (19,3%) tiveram resultado positivo. O genótipo HbSS foi o mais comum e as características: idade, IMC, sexo e raça foram semelhantes (p>0,05). No GP, 81,8% estavam recebendo HU ou TC e no GN, 63%. Durante a internação, o uso de antibiótico, O2 e Oseltamivir foi semelhante. Comorbidades foram identificadas em 63,6% dos pacientes do GP e em 30,4% do GN (p = 0,046– Fisher).A média de dias de internação foi 6 para o GP e 7 para o GN. Em relação aos sintomas e complicações, não houve diferença estatisticamente significativa, porém febre durante a internação foi mais frequente no GP (90,9% vs. 60,9;p = 0,055-Fisher).Um paciente do GP recebeu anticoagulação profilática devido a suspeita de embolia pulmonar, que foi descartada com exame de imagem. Nenhum paciente do GP e um paciente do GN necessitou de UTI por síndrome torácica aguda grave e necessidade de VNI. Nenhum paciente precisou de VM ou teve óbito como desfecho. O resultado dos HMGs foi semelhante e no GP a contagem de eosinófilos foi menor na admissão quando comparada ao último exame ambulatorial(p=0,008-Wilcoxon). Discussão: Os pacientes com DF e infecção pelo SARS-CoV-2 podem evoluir com desfecho desfavorável e dados de revisão em hemoglobinopatia em pacientes pediátricos com DF e COVID-19 apontam maior prevalência de necessidade de UTI neste grupo (Vilella TS et al., 2020). Neste estudo, SARS-CoV-2 demonstrou causar infecção leve e nenhum paciente necessitou de UTI. Quando comparados com adultos, a COVID-19 se mostrou menos agressiva em crianças. No GP houve diminuição significativa da contagem de eosinófilos no HMG antes e após a admissão. Esse achado sugere que a contagem de eosinófilos possa ser um marcador biológico potencial para COVID-19. A eosinopenia também foi evidenciada em estudos em pacientes adultos com COVID-19 (Li Q et al. 2020;Jafarzadeh A et al. 2020). Uma das principais limitações deste estudo foi o pequeno número de pacientes infectados. Até o presente momento, não havia na literatura estudos que comparassem simultaneamente pacientes pediátricos com DF internados com e sem COVID-19 e o HMG no GP antes e após a admissão hospitalar. Conclusão: Os pacientes com DF infectados por SARS-CoV-2 apresentaram quadro leve mesmo apresentando maior prevalência de comorbidades do que os não infectados. Não foram observadas diferenças clínicas ou laboratoriais entre os dois grupos.
ABSTRACT
Objetivo: Descrever as caracteristicas clinicas e laboratoriais dos pacientes abaixo dos 18 anos de idade com diagnostico de doenca falciforme (DF) infectados por SARS-CoV-2. Metodos: Estudo do tipo coorte, unicentrico e misto, com avaliacao de prontuario eletronico dos pacientes pediatricos com diagnostico de DF e infeccao pelo novo coronavirus confirmada por RT-PCR atendidos no hospital de referencia no periodo de marco de 2020 a julho de 2020. Resultados: Foram identificados seis pacientes com resultado positivo para SARS-CoV-2 dos quais tres eram do sexo feminino, cinco possuiam genotipo SS e cinco eram portadores de alguma comorbidade sendo asma a mais comum, presente em dois pacientes. A idade media foi de 11,4 anos (6,6-16,8) e o IMC medio foi de 17,9 kg/m2 (12,5-27,5). A duracao media do tempo de internacao foi de oito dias (2-24). A principal queixa na entrada foi dor, presente em cinco pacientes. Em relacao as demais queixas, um paciente apresentava febre e sintomas respiratorios, um apenas sintomas respiratorios e um somente febre. O valor medio do d-dimero nos exames de entrada foi de 2,84 mcg/mL (2,08-5,99) e do d-dimero maximo foi de 5,85 mcg/mL (3,61-12,93). Das cinco tomografias realizadas, duas apresentavam padrao em vidro fosco tipico de infeccao viral. Durante a internacao, todos os pacientes apresentaram febre e dessaturacao, tres apresentaram sindrome toracica aguda (STA), todos receberam antibiotico e necessitaram de oxigenio suplementar, um fez uso de anticoagulacao e nenhum necessitou de UTI ou foi a obito. Discussao: Na nossa casuistica a asma foi a comorbidade mais comum nos pacientes infectados pelo novo coronavirus. Na literatura a asma e descrita como um fator de risco para o desenvolvimento de STA e, ate o presente momento, tambem foi identificada como fator preditivo de pior prognostico na evolucao da infeccao. No grupo de pacientes em questao, o paciente portador de asma foi o que apresentou evolucao mais prolongada. A dor foi a queixa inicial mais frequente entre os pacientes. Ainda nao esta clara a associacao entre COVID-19 e dor em pediatria, porem em adultos ja ha relatos de crise vaso oclusiva (CVO) como manifestacao inicial da doenca. Durante a evolucao a dessaturacao e a febre foram os sinais mais frequentes e que podem ser encontrados tanto na STA quanto na COVID-19. Na literatura a STA e descrita como uma complicacao de COVID-19, tendo sido identificada em metade dos nossos pacientes. Todos os pacientes necessitaram de suporte com oxigenio e antibioticoterapia, tratamento utilizado tanto na infeccao pelo novo coronavirus quanto na STA. Ainda nao e bem estabelecido o uso de anticoagulacao em pediatria nos casos de COVID-19, porem deve-se ter em mente que os pacientes com DF podem apresentar rotineiramente valores mais elevados de d-dimero durante CVO e STA. O paciente que recebeu anticoagulacao evoluiu com maior tempo de internacao. Os achados radiograficos de vidro fosco sao compativeis com os descritos ate o momento. Comparado com a literatura, nossos pacientes nao diferiram em termos de sexo, genotipo, duracao de internacao e desfecho. Conclusao: A infeccao causada pelo SARS-CoV-2 pode ser um fator de risco para CVO e STA no paciente com DF. Semelhante a outros relatos em pacientes pediatricos com DF e COVID-19, nossos pacientes evoluiram bem e sem nenhum caso de obito.Copyright © 2020